“Cadê o novo disco da Maria Rita ?” Toda vez que eu falava bem dessa moça em alguma roda, sempre me faziam essa pergunta. Essa semana “Elo”, o tal disco, chegou nas boas casas do ramo. E aí mais falação: uns adoram, outros acham o repertório com cara de rascunho, gravado por falta de boas idéias, uns já escolheram suas preferidas, outros nem ouviram ainda. Agora chegou minha vez de falar.
Maria Rita canta prá caralho. Antes que você acuse esse texto de erudito já sou bem claro logo de cara. Dona de uma herança musical pra lá de conhecida e divulgada, esses oito anos de carreira oficial (contando de seu primeiro disco solo de 2003) fizeram muito bem à essa menina mulher que foi atirada na selva das cantoras brasileiras sem um rifle para atirar na hora que o bicho pegou. Apontando para varias direções com pertinência e inteligência, Maria Rita foi mostrando sua verdadeira personalidade musical e pessoal. E teve gente que adorou. E teve gente que odiou. E eu oscilei entre esses dois sentimentos tão extremados. Num primeiro momento virei uma espécie de fã “serial killer” que a perseguia por todos os palcos e camarins e quando chegou a hora da consagração com o álbum “Samba Meu” gravado em 2007, eu desapareci do seu campo de visão. Mas logo agora, na hora do grande momento comercial e artístico ? Pois é. Eu sou assim. Tenho medo das consagrações imediatas, dos projetos que vendem milhões, do decreto de prisão quase perpétua que muitos cantores sofrem após fazerem um disco de sucesso. E com Maria Rita não foi diferente. Muita água rolou até ela dar novamente seu grito de liberdade e subir num minúsculo palco de uma casa de shows em São Paulo e cantar o que bem quisesse, da forma que bem entendesse. E eu tava lá. E meu amor por ela acendeu de novo todas as chamas do saber querer. Mas cadê o próximo disco ? Finalmente chegou, tá aqui nas minhas mãos.
Para quem esteve nos shows dessa temporada quase todos os dias como eu, nenhuma novidade (“Conceição dos Coqueiros” e “Perfeitamente”). Para quem, como eu também, tem um arquivo secreto de raridades não gravadas oficialmente por Maria Rita, menos surpresa esse disco causa ("A História de Lilly Braun” e “Só De Você”). Eu já sabia das histórias por trás de algumas canções e já havia desconfiado como seriam, basicamente, os arranjos desse álbum. Enfim, acabo de praticamente adquirir uma coletânea. Mas e daí ? Maria Rita está cantando como nunca. Algumas canções surradas ficaram com cara de arte final devido à sua extrema firmeza musical e o prazer dos músicos de estarem acompanhando uma intérprete desse porte, transparece a cada acorde. E tem também a capa desse novo disco, mostrando Maria Rita em pleno calor que provoca arrepio.
Tem gente que não agüenta essa sensualidade explícita que acompanha Maria Rita já faz algum tempo. Eu fui um deles. Aquela mulher estranha cheia de gestos agressivos coberta por um figurino negro, há muito já dançou. Maria Rita queria solarizar, queria esbanjar felicidade urgente no palco, fazer o povo apreciar outras modalidades do seu canto e expressão. E conseguiu. E eu fiquei para trás, amargando a possibilidade anterior desejando uma cantora que agora já encontrava novas matizes, novos encantos. E tão forte foi sua vontade de passar para um outro estágio, que eu me convenci e relaxei. E hoje saboreio Maria Rita como ela é.
Deixa que digam, que pensem, que falem, coloquem “Elo” nos seus ouvidos e agradeçam a Deus uma cantora desse nível ser brasileira e adorada por uma multidão que aplaude um repertório consistente e teimoso em ser de qualidade, graças a ela. Nesse país de tantas insistências musicais sofríveis, Maria Rita ser gente grande no mercado, é o verdadeiro milagre brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário