terça-feira, 10 de maio de 2011

Confirmado para o BMW Festival, o saxofonista Wayne Shorter elogia a cantora Maria Rita


RIO - Wayne Shorter gosta de espelhos. Não por vaidade, mas pelo simbolismo. O saxofonista americano, de currículo glorioso - foi parceiro de Miles Davis, Herbie Hancock e Art Blakey -, diz que fazer música, aos 77 anos, é como encarar a própria imagem toda vez em que sobe num palco.
- Sempre que me apresento, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou no Japão, tenho o desafio de me encontrar no palco e também de refletir o que está acontecendo no mundo e ao meu redor - conta ele, que se apresenta na versão carioca do BMW Festival no dia 13 de junho. - E para mergulhar nesse espelho é preciso coragem para enfrentar o desconhecido toda noite.
Shorter tem com as palavras a mesma relação espiritual que tem com a música. Budista (já foi descrito como "o filósofo zen do jazz"), se apoiou na religião após perder a mulher num desastre de avião, em 1996. O saxofonista - que já ganhou nove Grammys e foi um dos pioneiros do som fusion, nos anos 1970, com o grupo Weather Report - vê seu trabalho se confundir com boa parte da História do jazz. Mesmo assim, garante que não acredita na imobilidade dos mitos e diz que precisa estar sempre evoluindo, assim como a sua definição do gênero.
- Tocar jazz é entrar num fluxo constante rumo às estrelas. É olhar no espelho e descobrir o Super-Homem que existe em você. Uma vez, perguntaram a Charlie Parker por que ele tocava jazz. Ele respondeu que tocava para ser humano. Eu também toco para ser humano, para valorizar minha existência. Minha definição de jazz segue esse caminho: não é fixa, imutável. Jazz é o improviso perante a vida.
Nessa passagem pelo Brasil, Shorter vai se apresentar com um quarteto, deixando um pouco de lado as experiências sinfônicas que tem feito, ao lado da Filarmônica de Los Angeles, por exemplo.
- É uma abordagem bem diferente. No projeto sinfônico, há uma orquestra, claro, e tudo é grandioso e bem preparado - conta. - Com o quarteto, não há partitura, não há formatos prontos. Esse show é quase como um voo cego. Oitenta por cento da apresentação é puro improviso. É a hora dos riscos, e sem riscos não há jazz. Miles ( Davis) se arriscava. John Coltrane se arriscava. Art Blakey se arriscava. É esse tipo de drama que nos move.
O lendário músico, que já trabalhou com Milton Nascimento, diz que vem ao país de olho em uma nova estrela da MPB: Maria Rita.
- Vi um show dela no México, durante um festival, e adorei sua voz e presença de palco. Gostaria de conhecer melhor seu trabalho e, quem sabe, um dia fazermos uma colaboração. Ela me deu a impressão de ser uma estrela reluzente.
Além de espelhos e de Maria Rita, Shorter gosta também de filmes. Em particular, de uma frase dita pelo personagem de Jeff Goldblum em "Jurassic Park", que, para o saxofonista, simboliza sua percepção da música em 2011.
- O mundo da música está passando por uma revolução, com as novas formas de gravar e distribuir. Há novos sons, estilos e talentos por toda parte, como esse jovem, Flying Lotus, neto de Alice Coltrane, de quem tenho ouvido falar muito bem. Nessa hora, em que a empolgação com o futuro traz também muitas dúvidas, lembro a frase de Goldblum no filme, quando um cientista diz a ele que os dinossauros do parque são fêmeas e não podem se reproduzir. Ele responde: "A vida encontra uma maneira." Acho que isso se aplica à música também. Ela vai encontrar uma maneira de seguir evoluindo.


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