terça-feira, 27 de abril de 2010

MARIA RITA entrevista da Brazil com Z

MARIA RITA



















De malas prontas, rumo à Espanha!



Sua belíssima voz é inegável, assim como seu talento para cativar a plateia de seus shows (sempre lotados!). Maria Rita apareceu como quem não quer nada, com um ar tranquilo, um sorriso meigo, e arrebatou o Brasil com seu vozeirão.


É difícil (ou impossível) ouvi-la e não se recordar de sua mãe, Elis Regina. A cantora brasileira que fez história e partiu tão jovem, deixou uma sementinha muito bem plantada. Maria Rita é uma das cantoras mais respeitadas e consagradas do nosso país, e detentora de vários prêmios. Entre eles, seis Grammys Latinos!


Desde seu primeiro CD, lançado em 2003, a cantora foi sucesso de crítica e público, o que lhe rendeu muitas apresentações em terra verde-amarela, grandes parcerias e, também, shows internacionais.


E agora é a nossa vez! Maria Rita, junto ao VII Festival Tensamba, estará se apresentando na Espanha em maio! Dia 15, em Madrid, e no dia 16, em Barcelona. O festival ainda a levará à Londres, no dia 18 do mesmo mês.


Antes de sua passagem por aqui, Maria Rita nos concedeu uma entrevista super bacana. Ela espera ansiosa pelas apresentações espanholas, mas, seguramente, quer ver muitos brasileiros na plateia. Eu me aponto! E você?

Por Maiby Gignon

BCZ: Você está encerrando a turnê “Samba Meu”, com um show no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Como serão os shows de Londres, Madrid e Barcelona em maio?
MR: Felizmente, conseguimos agendar mais dois shows para o encerramento da turnê, sendo mais um em SP e outro em Porto Alegre! Os shows na Europa, estou montando especialmente. Serão apresentações onde a canção é sempre o foco, onde a voz é mais um instrumento em cima do palco. As canções que escolhi vêm dos meus três trabalhos, assim como de projetos de amigos dos quais participei. Há uma ou duas canções inéditas, há uma ou duas canções que canto porque gosto de cantar, me emocionam. Em outras palavras, é, atualmente, um show sem a menor pretensão de se projetar ou solidificar em um CD ou DVD. Pensei num roteiro com o qual possa me divertir, matar uma certa saudade que tenho de cantar algumas outras coisas.

BCZ: Você já tocou em outros países e é sucesso de vendas em Portugal. É a primeira vez se apresentando na Espanha?
MR: Não. Enquanto em turnê com “Segundo” me apresentei em alguns festivais de jazz na Espanha. Mas não vejo a hora de voltar.

BCZ: Quais são as expectativas para esses shows? Você acredita que o público tem maioria brasileira ou espanhola?
MR: Por ser um show dentro de um festival cujo foco é música brasileira, acredito que veremos um público maior de brasileiros, mas entendo que há muita curiosidade com a música brasileira no geral. Mas procuro não criar expectativas, não. O que vier, para mim, é um lucro sem tamanho!

BCZ: Você, assim como nossos leitores, morou e teve uma experiência fora do Brasil. O que você levou de mais positivo de sua vivência no exterior?
MR: A possibilidade de enxergar o nosso país e nossa cultura a partir de outra, de um ponto de vista exilado, sem trazer a conotação sociopolítica da palavra, mas sim seu significado cru. Acredito ser um ponto positivo porque permite ao indivíduo uma melhor compreensão de si mesmo dentro de um contexto que, outrora, era simplesmente dia-a-dia. Somos indivíduos, mas somos indivíduos brasileiros. Os elementos e expressões culturais nos formam e transformam constantemente; poder olhar pra tais processos com uma certa distância é muito saudável. E esse olhar de longe aponta tanto as falhas quanto o belo com explicações intuitivas, e não intelectualizadas, formalizadas em teorias antropológicas, socioculturais, históricas etc; teorias essas que nem todos têm acesso sempre! São nossas impressões de nós mesmos. É o que se destaca que me interessa nessas interações.


BCZ: E um novo CD? Já tem data prevista ou pretende tirar umas férias antes de produzir mais um trabalho?
MR: Férias por tempo indeterminado… Como disse, continuarei cantando e me apresentando onde me quiserem, mas sem a obrigação e projeção de um trabalho novo, com tudo o que vem atrelado a isso. Preciso de tempo para me encontrar interpretando novamente. A vida me atropelou (no bom sentido, claro) nos últimos 9 anos, e sinto que agora pode ser um momento muito bom para um silêncio. Quero desacelerar um pouquinho, estudar o francês que sempre quis, voltar às aulas de conversação em espanhol, ler mais, ouvir mais música sem a pressão de dar uma opinião a cada esquina… Enfim, crescer.

BCZ: Você começou a cantar profissionalmente aos 24 anos. Um pouco tarde, para alguns. Quando é que você resolveu deixar de lado a comunicação social para “virar” cantora?
MR: O que “alguns” acham realmente não me importa. Esse tipo de crítica é pífia, no meu ponto de vista. Porque o tempo de cada um é só isso: o tempo de cada um. Me lembra aquela riminha que falávamos quando criança: o tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem… E, na verdade, eu nunca pratiquei comunicação social. Estudei comunicação social e estudos latino-americanos na NYU, fiz estágios em um sem-fim de lugares diferentes, de meios diferentes, fui me dando opções porque, no fundo, a música sempre existiu em tudo o que dizia respeito à minha existência! Esse processo, para mim, no meu tempo, foi fundamental porque só eu sou filha mulher da Elis Regina e só eu sei o que isso significa, enquanto cantora. Amadurecer a minha certeza de cantora era fundamental para que eu não fosse engolida por esse tipo de comentário de “alguns”. Agora, convenhamos, melhor “tarde”, porém com verdade, do que cedo com deslumbres.

                                                                 Gravação DVD Samba Meu - Foto:Marcos Hermes

BCZ: Você acredita que tentou fugir da carreira artística de algum modo?

MR: Eu sentia que fugia, sim. Eu cheguei a ter medo da minha voz, de mim mesma, da minha herança. Acredito, e isso é de extrema importância colocar, que esse medo era indicativo da minha falta de amadurecimento com relação aos meus fantasmas. E não há nada de errado nisso. Não era vergonha, não era rebeldia, não era nada disso. Era a noção perfeitamente clara da responsabilidade de ser filha da Elis e do Cesar, que são Artistas, operários da Música, e não celebridades. Cresci com meu pai dizendo que Música é com “m maiúsculo!”; que Música só é diversão para quem consome, fazemos a diversão dos outros, mas para nós, é o ganha pão e não é pra ser brincadeira não. São valores e parâmetros. Fazer por fazer nunca foi minha praia – seja na profissão, seja na vida pessoal. Gosto de ser reta. Rio de mim mesma, me permito… Mas sempre com a consciência de ser honesta, reta, justa, e agir de honra.

BCZ: As comparações com sua mãe, Elis Regina, são inevitáveis. Mas você conquistou seu espaço desde o início, ganhando um prêmio APCA, em 2002, antes mesmo de lançar seu primeiro CD. Como você se sentiu no início da carreira? Medo das comparações?
MR: Medo nenhum. Porque, dentro de mim, eu tinha toda a certeza do mundo que cantar era a minha parada. Mesmo. Com ou sem APCA, com ou sem Grammy, com ou sem temporadas de dois anos e meio. Eu queria era cantar.

BCZ: O seu aprendizado artístico se deu de maneira informal e intuitiva. Você acredita que, pelo fato de não precisar seguir “regras”, teve mais liberdade para criar sua identidade musical e moldar sua voz da maneira que a conhecemos?
MR: Não acho, não… Não vejo uma relação entre a educação formal e identidade musical. Pode-se ter o conhecimento das harmonias e ainda assim ser altamente intuitivo e livre. Não acredito que uma coisa exclua a outra. Até porque eu sigo “regras”! Respeitar a melodia dentro de uma harmonia, o batimento da canção… Musicalidade, eu tenho! (Risos) Eu só não sei é escrever…


 Gravação DVD Samba Meu - Foto: Marcos Hermes

    
BCZ: Você costuma fazer alguns duetos bastante diferentes e, até, inusitados. Já cantou com O Rappa, Los Hermanos, Jamie Cullum, Mercedes Sosa, Gilberto Gil… Existe algum outro artista com quem você sonhe poder compartir o palco algum dia?

MR: Pode ter certeza… Mas não conto não… (Risos)

BCZ: Você fez algo inédito no Brasil. Vendeu o single de “Caminho das Águas” pela internet antes de seu lançamento. Qual é a sua opinião sobre a facilidade de baixar músicas pela web? Até onde é prejudicial aos artistas, e até que ponto pode ser positivo para a divulgação do trabalho?
MR: Vixe, esse assunto é longo e é de matéria inteira… Mas vamos lá. Eu sou fã da facilidade do acesso à arte em geral, e isso inclui baixar música pela web. No entanto, eu não compreendo o argumento de que esse acesso deve ser gratuito. Não entendo mesmo. Sei que sou meio antiquada, mas a verdade é que o compositor, o intérprete, o músico, dependem da divulgação, do consumo da música para sobreviver. Para mim, beira uma questão de educação e respeito. Posso estar sendo um pouco polêmica, mas tenho que acreditar haver um meio do caminho para todos, tanto o consumidor quanto o mercado. Essa coisa de que artista pra ser artista tem que passar fome é que é antiga! É estranho falar em música como um produto, concordo; eu não gosto de ser vista como um produto, sou um ser humano! Mas essa roda existe há tempos, não fui eu quem a inventou. Existe o comércio das artes, não há como negar. É a indústria da música. É a tarifação sobre os discos. É royalties. O que eu procuro é oferecer sugestões – e recebê-las – para uma adaptação a um novo meio.

BCZ: Eu li que você não sabe o que é sucesso, porque encara sua profissão como um trabalho qualquer. Além disso, você faz questão de dizer que também é dona de casa e mãe. Dá tempo de exercer todas essas funções?
MR: Dá sim! É uma constante roda-viva, sem férias, noites pouco dormidas, cansaço garantido, mas dá sim! No momento em que estou respondendo suas perguntas, aprovei que o pequeno assistisse um pouco de TV; to de olho nele, aqui e no relógio, porque daqui a pouco tenho que levá-lo pra atividade extracurricular. Enquanto ele está lá, estarei numa reunião com uma parceira sobre um projeto que pensei para ela. Depois, corro na papelaria pra comprar umas pastas pra organizar papelada, ao mesmo tempo que cobro da moça que me ajuda aqui onde está o recibo do supermercado de ontem. Jantamos, eu e pequeno, na casa de uma grande amiga e, depois que ele dormir, tenho que estudar uma canção que canto amanhã num programa de televisão, enquanto arrumo a mala de figurino para este mesmo programa. E não posso esquecer de estudar os ensaios de duas semanas atrás para os shows na Europa, já que passo domingo ensaiando novamente com o trio. Para dormir, uma leiturazinha… Viu como dá tempo? Confesso que vez ou outra apelo para um energético, mas tá valendo!


Programa especial de 81 anos de Hebe Camargo (Foto: Marcos Hermes)


BCZ: Você, com certeza, faz parte da máxima “filho de peixe, peixinho é”. Sua família é sua grande inspiração e referência musical?

MR: Já eu costumo dizer que “filho de peixe… sabe nadar”. Minha família é sim alguma inspiração principalmente nos valores projetados à arte.

BCZ: Já pensou em fazer um dueto virtual como o de Celine Dion com Frank Sinatra, na versão Elis Regina e Maria Rita?
MR: Penso nisso não… Até porque, na minha humilde opinião, não achei sensacional aquilo. Já cantei “Essa Mulher” num especial em homenagem à mamãe, e foi muito, muito difícil, sob vários aspectos. Só me colocaria nesta situação novamente se fosse única e exclusivamente para ela. Ou pro Gilberto Gil, que me convidou para cantar “Amor Até o Fim” com ele no seu último DVD (Risos).

FONTE: Revista Brazil com Z

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